Brasil: rumo a um país sem educação, por Juliano Morimoto

Filipe Dezordi
4 min readMay 15, 2019

--

Este texto foi originalmente publicado em Inglês em umas das plataformas da revista Nature. E traduzido por Filipe Zimmer Dezordi com autorização de publicação por Juliano Morimoto.

Carnaval. Copacabana. Praia. Futebol. Essas são as primeiras imagens que qualquer um tem em mente quando o assunto é Brasil.

Rio de Janeiro. Fonte: theculturetrip.com

Porém, olhando com mais atenção para a atual instabilidade política Brasileira, é revelada uma realidade que pode ser qualquer coisa, menos alegria e felicidade — particularmente para ciência, tecnologia e educação.

As coisas vão mal. Não o tipo de “mal” que podemos conviver; Isso não é apenas uma questão de se acostumar com uma nova forma fazer as coisas. É mal no sentido que os principais centros educacionais na América Latina poderem desaparecer até o final de 2019.

As recentes ações governamentais de redução orçamentária das universidades federais deixaram sem rumo as principais instituições do país. A universidade mais antiga do Brasil, Universidade Federal do Paraná, com mais de 100 anos, passou por uma redução de 30% do seu orçamento, totalizando 48 milhões de reais. Infelizmente, este não é um caso isolado. Somam 5,8 bilhões de reais os cortes em todo o país.

Essa politica é dirigida diretamente as universidades publicas, as quais, ironicamente, possuem a maior reputação internacional do país quando o assunto é produtividade científica. De fato, mais de 90% das publicações científicas do Brasil são de universidades públicas, e todas as universidades Brasileiras em rankings internacionais são públicas. Postos estes números, é um tanto idiota justificar os cortes argumentando que as universidades públicas não estão envolvidas em pesquisas, como sugerido pelo atual governo.

Mas espere um pouco! As coisas pioram.

Protestos en Curitiba, Paraná. Créditos: Fanklin de Freitas

Mais de três mil bolsas de Mestrado e Doutorado foram “contigênciadas” em todo o país. Foi informado que estas bolsas estavam vagas e, portanto, foram recuperadas pelo órgão governamental responsável por gerenciá-las (CAPES). No entanto, um grande número destas bolsas já haviam sido alocadas para estudantes universitários. Muitos estudantes planejaram seus estudos de pós-graduação e — em um país tão extenso quanto o Brasil — se mudaram para outras cidades para iniciar seu curso apenas para perceber que suas bolsas de estudo não estavam mais disponíveis.

As instituições estão reagindo. O reitor da Universidade Federal do Paraná — Ricardo Marcelo Fonseca — manifestou sua preocupação com o futuro da educação pública no Brasil. Estudantes em todo o país organizaram protestos e comícios para expressar seu descontentamento em relação ao assunto. Um comício nacional está programado para acontecer no dia 15 de maio. As mídias sociais, a TV e o rádio estão destacando as muitas conquistas das instituições públicas e de seus ex-alunos, na tentativa de informar a população em geral sobre a importância da educação pública para a sociedade.

Protesto organizado por alunos da Universidade Federal do Paraná, que reuniu 15 mil pessoas. Crédito: Fanklin de Freitas

Infelizmente, a política é surda. Isso ocorre porque a política no Brasil tornou-se uma maneira pública de expressar opiniões pessoais, e a voz alta e clara das pessoas em favor da educação pública permanece deliberadamente desconhecida. Portanto, precisamos de apoio internacional para proteger nossas instituições públicas. O Brasil é um país de língua portuguesa, tão grande que se tornou autocentrado na América do Sul. Como resultado, há relativamente poucas pessoas com proficiência em Inglês capazes de (e interessadas em) comunicar a extensão dos problemas do país à comunidade internacional. Como Brasileiros, precisamos de plataformas de mídia que nos permitam expressar as dimensões e nuances dos problemas no país, permitindo ao mundo ver a trajetória desastrosa que o Brasil adotou para seu futuro. Precisamos ter uma voz! Só então poderemos conceber o sofrimento emocional, cultural e político causado por essa catástrofe.

Se perdermos essa batalha e as universidades federais públicas forem estranguladas até a morte financeiramente, não apenas perderemos o conhecimento produzido pelas instituições públicas, mas também a oportunidade para mentes jovens e talentosas alcançarem seus sonhos e contribuírem com novas descobertas que podem mudar o futuro do nosso planeta.

E em um país com diferenças sociais extremas como o Brasil, a esperança de uma oportunidade de estudar é tudo o que temos.

Não deixe que eles tirem isso de nós. Por favor, compartilhe e deixe que outras pessoas conheçam a luta.

Referencias da publicação original.

https://www.otempo.com.br/pol%C3%ADtica/ministro-do-stf-rejeita-a%C3%A7%C3%A3o-contra-contingenciamento-em-universidades-1.2179441

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2019/05/gestao-bolsonaro-faz-corte-generalizado-em-bolsas-de-pesquisa-pelo-pais.shtml

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/05/09/capes-diz-que-3474-bolsas-sofreram-bloqueio-preventivo.ghtml

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/05/10/pos-graduandos-que-largaram-empregos-para-realizar-pesquisas-lamentam-corte-de-bolsas-da-capes.ghtml

https://educacao.estadao.com.br/noticias/geral,mec-cortara-verba-de-universidade-por-balburdia-e-ja-mira-unb-uff-e-ufba,70002809579

https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/ensino_ensinosuperior/2019/05/08/ensino_ensinosuperior_interna,753888/doutor-mais-jovem-do-brasil-lamenta-corte-nas-universidades-federais.shtml

--

--